cada casa um caso
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Casa Ponte - parceria Roberto Leme Ferreira
Minha parceria de trabalho com o amigo e companheiro arquiteto Roberto Leme Ferreira sempre esteve viva, desde quando éramos estudantes até os dias de hoje, estivemos juntos no cursinho, no escritório do Paulo Mendes da Rocha no início da década de 70, montamos nosso primeiro escritório, elaboramos juntos vários projetos, e as casas construídas na localidade da Represa de Piracaia, como a casa Ponte e a casa Cascodai foram algumas delas. Na casa da PONTE a madeira estava em pauta. O terreno com uma topografia acidentada e em declive, formava uma pequena bacia no centro (fenda), dividindo o terreno em dois.
O desafio era interligá-los sem muito estrago da topografia, para isso propusermos uma ponte habitável que impactasse o menos possível a natureza do terreno. Uma ponte de madeira, coberta, que isolada do chão, e com seus 18m de vão, abrigasse o programa e proporciona-se a tão desejada vista da represa, além de produzir uma grande sombra no térreo que permitisse abrigar de forma generosa e independente a vida ao ar livre de uma casa de campo. Para a cobertura e a proteção da estrutura de madeira principal, o projeto propôs um beiral em balanço grande o suficiente para evitar qualquer avanço de umidade e insolação inconveniente, a velha máxima do chapéu de abas largas. A casa praticamente toda préfabricadas nas oficinas do Hélio Olga, teve seu tempo de construção e montagem reduzidos, ao mesmo tempo possibilitou produzir uma obra limpa e econômica.
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Casa de Itanhaém -parceria Ana Maria Z. Lindenberg.
Já formado, tive a oportunidade real de construir o meu primeiro projeto, uma casa em Itanhaém, em parceria com minha eterna companheira Ana Maria Z. Lindenberg. Itanhaém nessa época 1978 já não era mais a cidade bucólica da minha infância, mas ainda guardava alguma coisa de seu precioso patrimônio. A casa projetada apesar de um programa extenso, para um terreno pequeno e de esquina, mantinha a volumetria a mais suave possível, térrea preserva as características de escala e proporções das antigas e coloridas casas nativas.
Uma cobertura de quatro águas abriga todo o programa, a planta com circulação direta formada por uma bateria de dormitórios (4), banheiros, mais cozinha, serviços, sala mais varanda. A varanda, espaço preponderante no convívio diário, se volta para a esquina e é protegida por um jardim levemente elevado, contido e delineado por uma mureta de pedra que remete as técnicas construtivas da velha igreja matriz. Muro esse que configura a área de estar, e propicia uma visão panorâmica da paisagem. Uma casa singela, adequada ao contesto, pachanga se é que se pode dizer. Sempre fui adepto a procedimentos que considerem a materialidade e as técnicas locais como fator indutor das proposições de projeto e obra, e que as características da Arquitetura produzida nos Trópicos, naturalmente absorva a experiência e sabedoria consagrada pela história de nossa cultura, indicando os melhores caminhos. “Toda arquitetura feita nos úmidos e ensolarados trópicos, precisa de um bom par de botas e um chapéu de abas largas” essa lúcida e velha frase sempre me acompanhou. Era o que procurava inserir ainda de forma tímida, nos projetos e minhas primeiras obras, como a casa de Itanhaém.
03
Casa Cascodai - parceria Roberto Leme Ferreira e Christian Ribeiro
Debruçada sobre a amplitude de uma paisagem única, a casa tem como partido uma sucessão de linhas construtivas, formadas por um conjunto de muros de pedras. Muros que estabelecem através de seu traçado os limites dos territórios protegidos dos ambientes de uso, das demais áreas abertas, ajudando na organização funcional da casa, bem como, propiciam a interlocução da arquitetura com a paisagem de forma a construir perspectivas visuais privilegiadas do lugar.
O terreno amplo e em declive, e um programa extenso, indicam de antemão a obediência a topografia e pedem um desenho de implantação esparramado ao longo das curvas de nível. A linearidade da implantação tanto do bloco dos dormitórios, quanto do bloco da sala de estar, reforça o paralelismo compositivo do desenho dos muros ciclópicos. Este conjunto de muros de pedra, servem de estrutura de apoio as coberturas e formam uma sequência de planos em níveis distintos, que definem tanto os cheios quanto os vazios, quanto circunscrevem o programa e seus espaços de permanência e contemplação.
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Casa Quiririm - parceria Christian Ribeiro
MINAS DE QUIRIRIM - Lá estava eu em Tremembé num fim de semana, quando o médico e amigo João Eduardo, um solteiro convicto, apareceu em casa trazendo um rascunho da planta de uma pretensa casa que queria construir em Quiririm. Uma casa O VENTO LEVOU um vento mineiro. Ele gosta de desenhar. O meu trabalho era só palpitar, não sou muito bom nisso, porém os palpites foram gradativamente se transformando em problemas insolúveis. Fiz uma sugestão, preciso de um tempo, vou pensar em uma alternativa possível. O terreno era especial, 75% plano e mais a vista do Vale com a Mantiqueira ao fundo. Muito bonito, não resisti, acabei fazendo uma proposta nova. O João não se entusiasmou na primeira vista pela proposta apresentada, levou um tempo para absorve-la, era abstrata demais, fugia da imagem tradicional por ele já concebida; mas com o tempo e sua aguçada sensibilidade mineira, foi se envolvendo de tal maneira que acabou participando de forma definitiva no resultado final da obra, especialmente na ornamentação, e no desenho dos caixilhos.
Caixilhos que pareciam vindos de OURO PRETO sua terra natal. Solidarizou-se também com a escolha dos forros da sala, forro de madeira tipo “saia e camisa”, e o das circulações, com uma trama de bambu caiada, técnica em extinção, mas típica da velha casa mineira. A natureza minimalista do partido arquitetônico foi se transformando aos poucos em um projeto “mineiralista”. A casa é formada por 3 blocos de alvenaria, distintos cobertos por laje e intercalados por pequenos jardins. No primeiro bloco o atelier de trabalho, no segundo bloco, quarto banheiro e biblioteca, e no terceiro, cozinha, sala e varanda que se projetam paisagem afora, todos interligados por uma circulação contínua e fechada na face oeste, contrapondo-se com a outra na face leste, aberta, formando uma extensa varanda interligada aos jardins. Um quarto elemento, independente, abriga casa de caseiro e a garagem. Uma casa que se propunha contemporânea, mas que melhor com o JOÃO, virou MINEIRA
06
Casa Guaecá
VIVA LUCIO COSTA!
Meu amigo WEBER havia adquirido um clássico terreno de 12m X 25m em Guaecá, litoral norte de São Paulo. Queria construir uma casa na praia. Guaecá é um loteamento impar pois além de uma estratégia de ocupação única, o loteamento prestigia de maneira incomum as relações de vizinhança. Uma concepção inovadora para a época. Propunha lotes pequenos, alimentados de um lado por uma via de serviços, e do outro generosamente voltado para uma grande área verde que liga a terra ao mar. Uma obra com o sotaque de LUCIO COSTA.
O programa proposto contempla as necessidades básicas de uma casa, três dormitórios, banheiros, sala, cozinha e área de serviço. A recomendação era gastar pouco, mas isso não era um entrave, ia de encontro ao que pensava e reforçaria as premissas de uma arquitetura singela e eficiente ao gosto de LUCIO COSTA. Uma casa simples, de uma água só, um bloco de dormitórios no térreo, a meio piso a cozinha e o jantar mais a varanda conectada há cavaleira do jardim. No andar superior, sobre a laje dos dormitórios, a sala e as varandas, onde as vistas da paisagem se ampliam; como nas casas populares dos morros brasileiros, quase sempre dependuradas na paisagem.
07
Casa dos Restinhos - Tremembé
De volta a São Paulo no início da década de 90 fomos morar em Tremembé, em uma casa “caipira” que fora transformada em nossa moradia. Localizada numa chácara ao sopé da várzea do Rio Paraíba e que havia adquirido e reformado no período que trabalhava no Vale como arquiteto e membro do corpo técnico do CONDEPHAAT. Instalada numa paisagem mutante com seus arrozais verdes e amarelos quando prontos para colheita, hora terra nua, hora terra alagada, continua com suas transformações; pasto de inúmeros boizinhos, depois cava de areia e suas inconveniências e hoje um belo lago em um horizonte de perder de vista. Era uma pequena casa de 4 cômodos, provavelmente construída no começo do século 20, já de tijolo, assentada em barro, entre 1910-1920. A reforma no início dos anos 80 foi feita a quatro mãos, por um pedreiro (o Polaco) e um ajudante (Pedro do Correio) a Ana e eu.
Havia uma desordem natural no lugar, a cultura local e seus caprichos já haviam esboçado o partido. Para nós a intenção era estabelecer uma unidade capaz de fundir os ambientes ao novo espaço com economia e sem prejuízo da noção de todo. Não queríamos a descaracterização do lugar. As premissas do projeto e da obra eram a disponibilidade de recursos (baixa) e o reaproveitamento dos materiais e do espaço existente, enfatizando a qualidade do ambiente e a inserção com a paisagem. Os tijolos ainda feitos a mão, eram trazidos da olaria vizinha em pequenas carroças puxadas por cavalo. As portas e janelas foram todas reaproveitadas ou recolocadas para melhor atender ao programa. As janelas da sala vieram de uma madeireira desativada no Paraná, eram só guilhotinas e umas poucas venezianas, na cozinha a janela dupla veio dos restos da antiga casa da chácara do Embu. Os azulejos e cerâmicas ou eram sobras de estoque ou das obras e reformas de amigos e parentes, isso se estendeu a quase tudo, dos azulejos art-nouveau da lareira vindos de uma demolição nas Perdizes, ao “conjunto” do mobiliário. Tudo foi reaproveitado. Era a casa dos restinhos.
08
A cabana do Ananias
A razão era só construir um desafogo, uma pequena sombra, amparada pelas grandes pedras do terreno. Ser invisível, intervir o menos possível no contesto ambiental do lugar, não mexer em nada, aproveitar o veio d’água que desce da encosta, a madeira descartada pela floresta e trazida pelo mar, fazer valer a ambiência de um espaço despojado, livre de vedações, um chão que contemple a vida. Um lugar onde se possa pendurar uma rede e tirar uma soneca depois de uma pescaria. Ter a companhia dos cães vira-latas amigos dos bons, “Doguerson” e o “Pirata”. Um lugar chamado Quintal do Paraíso onde a vida as vezes parece dura, mas também é feita de sombra e água fresca.
09
Casa Taturana
Na casa taturana a ideia era estudar e possibilidade de reinterpretar parte da arquitetura de madeira tão difundida no Sul do País .A proposta arquitetônica pretendia apropriar-se das características e declividade do terreno de maneira que a figura construtiva da arquitetura fosse a extensão da topografia ,A construção pautada na tradição local, redesenhava as técnicas e fazia com que os planos que abrigavam o programa, pousassem de forma suave sobre o chão sem cortes bruscos e sem descaracterizar a conformação natural do terreno. Uma segunda versão de 3 dormitórios, com as mesmas características topográficas, porém com os acessos em aclive transformou a geografia no suporte formal e conceptivo do espaço da casa. Uma rampa, ao longo da topografia conecta os níveis e pisos, transformando o acesso em um elemento prático e lúdico de conexão entre as atividades de uso cotidiano da casa. A estrutura também construída em madeira de forma tradicional, corre paralela a topografia com uma pequena inflexão, ensaia uma concepção formal capaz de sublinhar a geografia e definir com leveza e naturalidade as funções e seu programa.